Em estado de graça. É assim que nos sentíamos naquela manhã fresca e ensolarada, depois de uma visita ao Palácio de Queluz. O próximo destino era um pouco distante e o rumo ainda desconhecido. Sem problema. Basta procurar pelo caminho no GPS do carro. Qual é a cidade? Sintra. Nome do logradouro? Parque Nacional de Sintra. Qual é o número?… Número?… Decididamente, não sei qual é o número do Parque Nacional de Sintra. Muito simples. Tenho um bom senso de direção e, com a ajuda das placas de trânsito, não preciso do GPS.
Depois de muitas ruas e rotundas, chego à conclusão que estamos completamente perdidos. É melhor parar e pedir ajuda. Paramos em frente ao Bar da Maria.
É uma construção simples. Na frente há um pequeno pátio em aclive com uma rampa em ziguezague e, ao lado dela, patamares com meia dúzia de mesas rústicas de madeira, todas ocupadas, cada uma por dois ou três homens. Ao todo eram uns dez, sentados e em completo silêncio. Quando comecei a subir a rampa, todos se voltaram para mim. Custava-me acreditar que fossem reais. Eram jovens, de aparência rude, vestidos de maneira simples. Ocorreu-me a imagem de caminhoneiros cansados. A princípio senti um ambiente agressivo e tive medo. A luz descontraída da manhã me acalmou e continuei a subir até o pequeno cômodo, procurando pela Maria do bar.
Por trás do balcão, quem me atendeu foi um jovem de seus trinta anos, ativo, bem diferente dos letárgicos fregueses. Logo se dispôs a me ajudar e disse que poderia programar o GPS para levar-me ao Parque. De pé, pôs-se a procurar caminhos e a digitar instruções. Eu observava esperançoso. Enquanto isso, todos os fregueses se levantaram das mesas e, como zumbis, foram lentamente se aproximando. Postaram-se em frente ao balcão, observando atentamente os movimentos do jovem. A cena me intrigou e, mais do que isso, me incomodou. Supondo, ingenuamente, que todos aqueles fregueses queriam pedir alguma coisa ou – quem sabe? – pagar a conta, sugeri ao jovem que os atendesse; eu não tinha pressa e poderia esperar. Tudo que recebi como resposta foi um “não se preocupe”.
Terminada a programação, agradeci e me senti na obrigação de pedir um café para mim e outro para Rosana que, a essa altura, preocupada com a demora, saíra do carro e se sentara por perto. Só então um dos fregueses rompeu o silêncio e, dirigindo-se a mim, disse algumas palavras que não compreendi. Respondi com um sim lacônico. Ele continuou dizendo coisas incompreensíveis enquanto os outros fregueses vieram aos poucos se aglomerar, silenciosos e atentos, em torno de nós. Assustado, peguei Rosana pela mão e, literalmente, fugimos para o carro.
Dei partida e ouvimos aliviados as instruções que Catarina, a nossa guia portuguesa do GPS, nos passava. Cinquenta metros à frente passamos por um hospital psiquiátrico.