Paulo Cadaval
Abril de 2008.
Papai comprou aquele terreno, de 2.000 m2, ao mesmo tempo em que um colega e amigo dele, Eduardo Schmidt Monteiro de Castro, também o fez. O Schmidt era colega de Papai na Secretaria de Viação e Obras Públicas e, sendo bem mais abonado do que ele, logo construiu uma casa. O terreno dele ficava bem atrás do nosso.
Nosso terreno foi cercado, com arame farpado e passamos a cuidar de uma praga que existia ali: a formiga saúva. Muitos fins de semana foram dedicados a tapar a boca de formigueiros (menos um) e introduzir fumaça de enxofre, com o auxílio de um fole. Muito pernilongo, mas isto era pormenor insignificante. Menino não reclamava e nem podia.
A casa tinha uma varanda, uma sala grande, um quarto (ou dois?), banheiro e cozinha, com fogão de lenha. Havia uma cisterna, inicialmente operada por um cavalete, um eixo, uma manivela, corda e um balde. Mais tarde, com o “avanço da tecnologia”, foi colocada uma bomba manual.
Além da filharada, iam lá os parentes e amigos de cada um de nós, como o Mario Lott, o Murilo Menim, Tio Tenente, Nhonhô, Maria do Carmo Sepúlveda, etc. Era um “programa de índio”, mas naquela época muito bom…
A iluminação era provida por um lampião com camisa que produzia luz muito forte. Ganhei de Nonhô (Eder Guimarães, meu padrinho) um “radio galena” e usava a cerca de arame farpado como antena. Papai e eu passávamos muito tempo tentando fazer aquela geringonça sintonizar alguma estação. Quando conseguíamos, vinha todo mundo escutar (muito difícil).
O acesso era por bonde ou ônibus. O bonde parava no alto da Avenida Antonio Carlos e o ônibus ia até a “Estação de Passageiros” do Aeroporto. O transporte preferido era o bonde, evidentemente pelo preço. Lembro-me daquele bando de meninos, carregando sacolas, balaios, pacotes, comandados por Mamãe e Papai. Descíamos o morro até a “Estação”, cruzávamos a pista, que era de grama (poucas vezes pousavam ou decolavam aviões ali). Seguíamos por um caminho de terra
até um ribeirão e passávamos por uma ponte (?) que chamávamos de “pinguela”. Daisy morria de medo de atravessar e o fazia passo a passo, com o pessoal rindo a valer. Outra que se apavorava ao atravessar a pinguela era Titia (Delfina de Carvalho Palhano), que fechava os olhos e ia de passo em passo, conduzida por um de nós.
Subíamos o morro e logo chegávamos à casa.
O que fazíamos lá? A terra era muito ruim, areia e cascalho. Não dava nada. Mas vivíamos plantando qualquer coisa: milho, mandioca, flores, etc. Consegui algumas mudas de eucalipto que plantei junto à cerca de arame farpado, de um dos lados.
Certa vez, alguém descobriu, perto dali, muitos pés de goiaba vermelha, repletos de frutos maduros. Imediatamente apareceu o que fazer. Mão de obra não faltava. Catamos uma enormidade de goiabas e Mamãe organizou, logo, a fabricação de goiabada. Voltamos para Belo Horizonte, no domingo, carregados de doce.
Quando o Mario Lott ia, passávamos horas no alto do morro observando a pista e a Base Aérea, na esperança de ver algum avião chegando ou saindo, o que era raro. Se aparecia umzinho, era motivo de muita alegria e assunto para o resto do fim de semana.
Não me lembro de nenhum contato nosso com o único vizinho, Schmidt, colega de Papai. A mulher dele, Antonieta, era meio esnobe e não se misturava com nosso bando. Não fazia falta nenhuma. Nós nos divertíamos à bessa (como Papai dizia) em nosso grupo.
Epílogo (escrito por Maurício)
O QUE ACONTECEU COM A CASA DA PAMPULHA?
Com o passar do tempo, os filhos foram crescendo, mudando, casando e quase ninguém ia mais à casa da Pampulha. Um caseiro foi contratado para manter as coisas em ordem. Em vez disso, ele vendeu e cedeu partes do terreno a outras pessoas que construíram ali os seus barracos. Na década nos 60, a área virou uma grande favela e ninguém da nossa família se interessou em retomar a propriedade.