Artes & Artigos

por Maurício Cadaval

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Farrapos de tempos idos

04/02/2017 by Mauricio Cadaval

A vida na fazenda no final do século XIX

“Farrapos de Tempos Idos …”, de José Palhano de Jesus, foi finalizado em 1933, no Rio de Janeiro e impresso em 1950, quando o autor completava 75 anos[1]. Como sugere o título, conta histórias de uma época que se foi para não voltar. José Palhano de Jesus nasceu quando o Brasil era uma monarquia, passou pela abolição da escravatura, em 1888, e pouco depois pela proclamação da República. Apesar de tantas mudanças, do ponto de vista do menino que se apresenta na primeira parte do livro, a vida corria tranquila, recheada de histórias pitorescas e aventuras de criança.

O livro retrata o período em que o autor viveu na Mata Virgem, fazenda escravagista de algodão de propriedade do seu avô, localizada no interior do Maranhão, distante cerca de 80 quilômetros da cidade de Codó, à época uma pequena vila. Os costumes e as situações que compunham o jeito de viver de brancos e escravos na fazenda, entre 1880 e 1890, são apresentados ao leitor em detalhes.

O cotidiano e as impressões dascrianças aparecem em primeiro plano. Há muitas e divertidas histórias relacionadas aos brinquedos e brincadeiras da época, ao momento de alfabetização e às confusões que elas faziam ao absorver o conhecimento comum à época, pautado muito mais pela religião do que pela ciência.  Confusões que afetavam também os adultos, cercados por folclores, crendices e histórias de almas penadas e lobisomens.

José Palhano e seu irmão,Anísio, passaram a infância em longas explorações pela fazenda e suas imediações. Desde bem pequenos, com suas camisolinhas feitas pela mãe e sapatos talhados por um único sapateiro na vila de Codó, os dois passavam os dias em brincadeiras ao lado dos tios – também crianças à época – e dos “moleques e negrinhas”, como eram chamados os filhos dos escravos. Encontravam diversão em cada canto: nos currais, paióis, açudes, riachos e ranchos.

A mãe de Palhano é figura importante na narrativa: ao contrário das mães de hoje, ela não acompanhava de perto todas as aventuras – algumas até bem arriscadas – de seus filhos. Tendo se casado com apenas quinze anos com um “senhor” de 35, ficou viúva muito cedo, quando Palhano tinha apenas quatro anos e seu irmão seis. A partir daí, se dedicou a cuidar da administração da Casa Grande, de seus filhos e dos irmãos menores (já que a mãe dela estava debilitada após ter sofrido de tifo) e ainda costurava, à máquina, roupas simples que vendia aos escravos e agregados da fazenda. 

O principal produto da fazenda era o algodão, colhido por escravos que tinham a obrigação de trazer pelo menos três arrobas por dia, caso contrário eram açoitados. Palhano relata como assistiu várias vezes ao “degradante espetáculo” da pesagem do algodão, realizada no início da noite, em frente à varanda da casa. O menino viu, por exemplo, a confusão que se criou quando a velha escrava Otávia tentou esconder dentro do algodão umas duas ou três pedras para aumentar o peso e escapar da sova.

O trabalho dos negros era incessante, comandado pelo feitor branco (que por sinal era mulato), compadre Alfredo, e pelo feitor preto, chamado Ivo. O autor descreve como algumas escravas passavam o dia socando o arroz em um pilão, para separar a casca do grão. Ou como na “eira” de bater arroz e secar algodão – um grande pátio de terra socada, os escravos batiam cadenciadamente a planta com grandes paus, enquanto entoavam versos simples. Cantigas e versos faziam parte da rotina de todos, brancos e escravos, crianças e adultos.

Os meninos se misturavam ao trabalho da fazenda, se divertindo e também aprendendo. Uma das brincadeiras tinha como cenário o paiol onde era depositada a pluma do algodão. A farra era saltar por cima da pluma, para baixar o volume e permitir que uma quantidade maior fosse armazenada. “Nós, os meninos, nos oferecíamos para aquele serviço: ou melhor, para aquele agradável desporte, não raro em companhia de moleques e até negrinhas, estes e estas nus, segundo a moda deles até os 10 anos. E era um atirar-se de bruços sobre aquela tênue matéria que se comprimia deixando-nos inteiramente mergulhados num mundo branco e leve”.

Além do algodão, a fazenda era autossuficiente: plantava-se arroz, milho, fumo e outras culturas, criava-se gado, porcos e galinhas. Roupas, facas, enxadas, esteiras, balaios e vários outros objetos também eram produzidos ali. Meio na brincadeira, meio a sério, as crianças aprendiam atividades diversas típicas da fazenda, como o plantio e tratamento do fumo, o trabalho de ferreiro ou a construção de casas de taipa.

Só se obtinha da vila de Codó raros itens industrializados. Fazia sucesso, por exemplo, o presente que o avô trazia quando ia à vila: pães pequenos e ovais, “os únicos que ali se fabricavam”. Mesmo sendo já “pães dormidos”, agradavam à meninada por conta da novidade. O usual no café da manhã da fazenda era ter iguarias como bolo de tapioca, “bolo podre”, cuscuz, pamonha, macaxeira, abóbora (jerimum), beiju, entre outros.

 A rica produção da fazenda e as comidas preparadas com o que se plantava e colhia aparecem em vários trechos e chegam a dar água na boca no leitor. Como diz Palhano em certo trecho, era uma fartura “estupenda”. Ele descreve, por exemplo, as “sete maravilhas do mundo da cana de açúcar” obtidas no processo de refino do açúcar, que vão desde o rolete de cana até cascões e raspas que se formam nas paredes do tacho de cobre.

O mocotó era outro prato famoso.  Quando se matava um boi, chamavam-se os brancos das fazendas vizinhas para o banquete: havia o mocotó comum e o mocotó coberto (com ovos), ambos bem temperados com pimenta de cheiro. Para acompanhar, pirão, leitoa guisada, leitão assado, guisado de carneiro, lombo de porco, entre outros pratos. Palhano relata que, em um daqueles dias de festa, ouviu os adultos pedirem várias vezes: “passe a pimenta…”. Achando que era uma coisa essencial, pediu também. O desejo foi negado, mas ele tanto insistiu que o avô se irritou e despejou pimenta no prato da criança. “Daí por diante nunca mais quis saber de tão bárbaro tempero…”.

Ainda sobre o gado, o autor conta que o avô havia plantado, próximo à mata nativa, um vasto campo artificial. Ali se criava, além dos bois, porcos e carneiros, sendo estes últimos de alta qualidade, de raças que o fazendeiro procurava melhorar com a importação de espécimes ingleses. Do boi, tudo se aproveitava. Os meninos acompanhavam o espetáculo da matança do animal, realizado uma ou duas vezes por mês, e disputavam os despojos: a bexiga era o mais desejado pela criançada: “soprada, amarrada e batida no chão, ia-se distendendo até constituir um grande ovoide, translúcido e leve, que servia de peteca e de açoite”.

Entrando no tema das brincadeiras, uma das mais comuns era a criação de filhotes de passarinhos, como pombos, juritis, fogo-pagou, sangue-de-boi, entre outros, apanhados com o uso de arapucas. Para alimentá-los, utilizavam um processo que não seria muito bem visto pelas mães de hoje: imitando os pássaros, enchiam a própria boca de arroz cru e água e mergulhavam o bico do filhote ali dentro. Aparentemente, o sistema funcionava e os bichinhos sobreviviam. Já as andorinhas não tinham tanta sorte. Ao observar que elas não comiam grãos e que ficavam frequentemente pousadas nas bostas de cavalos e bois, concluíram os meninos que este seria seu alimento e insistiam em alimentar os filhotes com pequenas “pílulas” de excremento. Obviamente, eles rapidamente morriam.

Em certa ocasião, Palhano teve a sorte de encontrar um tucano, a quem criou com muito cuidado. As crianças também alimentavam filhotes órfãos de porcos, veados, antas, cotias, pacas, preás, raposas, catetus, queixadas, entre outros bichos. Além da distração proporcionada por essas criações, possuíam vários brinquedos, que eles mesmos construíam. Eram violinhas feitas com cabaça, elástico de botinas velhas, fios da cauda de cavalo e outros itens, carros de boi feitos de cabaça, reque-reques, papagaios de papel, armas de arremesso, zarabatanas, entre vários outros.

De vez em quando, o avô ou um dos jovens tios trazia da vila de Codó ou de São Luiz alguns brinquedos “de loja”. O retorno de viagem deles era esperado com impaciência pela meninada. Numa daquelas “memoráveis aberturas de mala”, Palhano viu surgiu um livrinho com figuras na capa. Aparentemente, o tio não tivera tempo de comprar brinquedos e deixou que o menino ficasse com o livro. Ainda sem saber ler, ele adorou o “presente” que descobriu, mais tarde, ser um simples catálogo de máquinas de costura.

Cantos e rezas eram frequentes e havia um verso para cada momento e necessidade. Palhano descreve, por exemplo, que quando as chuvas demoravam um pouco a chegar, organizava-se uma procissão que unia, “numa tocante fraternidade”, brancos e pretos, mulatos e cafuzos. Carregando os santos do oratório de “Mãe-Dondom”, a matriarca da fazenda, saiam pela fazenda até a beira da mata, espantando no caminho os jacus, macacos e periquitos. “Sendo as procissões realizadas no tempo próprio das chuvas, quando estas já não tardavam, não é de estranhar que o milagre se operasse às vezes ao apelo dos nossos cantos. E lá voltávamos, estrada afora, completamente ensopados…”.

A religião aparece em várias outras histórias. Em uma delas, Palhano com seus dez anos, empolgado com o catecismo, se esforça para achar um pecado para confessar, na véspera da primeira comunhão. Depois de muito pensar, resolveu relatar ao padre certo “incidente que, quando ocorrido, audível ou sensivelmente, junto dos outros, mesmo que por descuido, não deixava de provocar protestos”. A descrição fica clara em outro trecho: ele estava falando de gases. Obviamente, o padre se divertiu e o liberou do “pecado”.

Em outra passagem, Palhano conta que a reza dos “pretinhos” da fazenda era comandava pela Tia Eufrásia, que chamava o Pai Nosso de Oponosso e rezava assim: “venha a nós avó torreno”… E completa: torreno era o nome que se dava, no Codó, ao torresmo.

Ainda nesta linha, um dos causosdescreve uma noite em que, assustados com raios e trovões de uma tempestade, todos na casa grande se puseram a rezar juntos. A mãe de Palhano lia as frases que eram ecoadas em coro pelos demais. Em certo momento, a mãe interrompe a reza para dar um recado a alguém: “vai ver se Dondom está precisando de alguma coisa”. Ao que a que a criança repete, achando que ainda era parte do coro: “vai ver se Dondom está precisando de alguma coisa”. “Não é assim, meu filho”, replica a mãe e ele, incontinente: “não é assim meu filho”, provocando risos e acabando com a solenidade do momento. Para o menino, “para aplacar o padre eterno, com as suas furiosas barbas, bastavam as ininteligíveis palavras cabalísticas”.

O relacionamento das crianças com os adultos era bem diferente do de hoje em dia. Em um dos capítulos, Palhano conta de alguns merecidos “bolos” que levou, por conta de desobediências ou por falar palavrões. O respeito ao mais velho era exigido sempre, inclusive em relação aos escravos. Certa ocasião, Palhano e seu irmão brincavam na varanda por cima de um monte de algodão em caroço que havia sido espalhado ali para secar. O preto velho Benício, ex-feitor muito respeitado – “tão estimado que sentava-se à mesa dos brancos, coisa extraordinária naqueles tempos” – chamou a atenção das crianças. Palhano respondeu, sem intuito de ofender: “qual compadre! Você é preto!”. Benício levou o menino à mãe, que lhe aplicou um corretivo imediato.

Quando Palhano completou doze anos, sua mãe, na dificuldade de achar um professor ou um local em que ele pudesse continuar seus estudos, iniciados na casa de um padre em Codó, mandou o menino para a vila de Parnaíba, onde ele foi trabalhar como aprendiz na farmácia de seu tio Mundico. Lá, presenciou casoscomo o do “poeta” Joao Mandubé, que havia “cismado” de ser professor primário. Alguns dos nomes importantes da cidade, entre eles seu tio Mundico, resolveram formar uma banca para examinar o candidato. Em certo momento, perguntam a Mandubé quem era o poeta Fábio Everton. O rapaz entendeu mal a pergunta, mas não quis se fazer de vencido e respondeu: “sim senhor, Fábio é verbo”.

Na farmácia, Palhano também vivenciou as fraudes que ocorriam em nome do “interesse comercial”. Ele conta que viu seu tio fabricando uma pomada de mercúrio, remédio muito procurado à época. No processo de mistura, se adicionava “pó de sapato” para dar uma cor mais escura à pomada e diluir o custo, já que o mercúrio era caro. O aprendiz, ao ver o processo, passou a fazer a pomada apenas com o tal pó, sem uma grama de mercúrio, principal medicamento operante. “Nem me passava pela cabeça que aquilo era mal feito”, conta.

Entre tantas outras histórias, há descrição de várias festas da fazenda, como o Bumba meu Boi, o São João ou a Festa de Nossa Senhora da Conceição. Nesta última, realizada no final do ano, uma das atividades era uma roda de cantorias no meio da qual dançava sempre uma jovem, negra ou mulata.  Também ocorriam os “chorados”, espécie de quadrilha, da qual raramente os brancos tomavam parte.

Um dos momentos relatados no livro conta da chegada de ciganos à fazenda. Um grupo de aproximadamente 20 cavalos chega de surpresa numa manhã qualquer, trazendo homens, mulheres e crianças, e logo movimenta a rotina da fazenda. Os ciganos negociavam cavalos, liam as mãos, ou a “buenadicha” em troca de algum dinheiro – sempre com boas notícias para agradar ao ganjão (nome dado a quem não é cigano), e as crianças surrupiavam discretamente frangos e ovos.  Mas os moradores se davam por pagos com a quebra da rotina monótona da fazenda, admirando as vestimentas, costumes e jeito de falar diferentes e ouvindo as novidades que eles traziam.

O final da temporada de Palhano na fazenda coincide com o início da decadência da fazenda Mata Virgem, causado por problemas econômicos (a queda do preço do algodão) e precipitado pela doença do avô e pela abolição da escravatura. Palhano lembra bem do dia em que chegou a notícia do fim da escravidão. Era o dia seguinte ao ato da princesa Isabel e a boa nova chegou da Corte por telégrafo. O fazendeiro quis que os agora já ex-escravos fossem informados imediatamente.

“O sino da varanda começou desde logo cedo a badalar em frente à capela e os pretos, intrigados com a extemporânea chamada, foram se reunindo no pátio em frente, mal iluminado pela luz pálida dos candeeiros de azeite”. Foi neste cenário que o tio Otaviano, antigo autor de versos abolicionistas, anunciou o grande fato: “Vocês estão todos livres! Não há mais escravos no Brasil!”. A reação, ao contrário do que se poderia esperar, foi de silêncio.

Os brancos, sorridentes, olhavam para o grupo de escravos da varanda, mas a quietude permanecia. Foi preciso que tio Otaviano descesse e fosse se colocar no meio dos escravos para repetir a novidade. Aos poucos, começou um crescente murmúrio, indicando que eles começavam a se dar conta que a abolição era uma realidade. Foi, novamente, o tio que conclamou o grupo para a festa, chamando um “viva” para a princesa Isabel e outros abolicionistas e decretando: “agora vão brincar tambor, vão se divertir”.

À noite e na manha seguinte houve festa, dança e cantoria. Os escravos não foram embora, “como seria de esperar em homens ansiosos de experimentar, fora das telas do antigo viveiro, as novas asas da Liberdade. Fez-se com eles um contrato verbal e quase todos, se não todos, voltaram à roça”, conta Palhano.

São muitas e muitas histórias. Cada capítulo é nomeado com frases que indicam três ou quatro histórias que serão contadas ali. Há histórias das viagens a cavalo que se faziam entre uma fazenda e outra, versos, trechos de cantigas e mais algumas travessuras de Palhano. Um livro rico e divertido, que, apesar do estranhamento causado pela linguagem antiga, encanta ao leitor que se interessa por conhecer um mundo tão diferente.

 

[1]JESUS, José Palhano – Farrapos de tempos idos… Rio de Janeiro: Casa da Moeda, 1950. 353 p.O autor era tio-avô de Mauricio Cadaval.

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Dilemas da memória

04/02/2017 by Mauricio Cadaval

Ele me esperou pacientemente em cima do criado-mudo. Na capa, a fotografia em preto e branco do casario de madeira à beira da estrada, cruzado por postes e fios, num ambiente de céu nublado e árvores desfolhadas que lembrava inverno rigoroso; no primeiro plano, um automóvel preto, modelo dos anos 1920, e junto dele, a observá-lo, um homem em pé.

Foi Rosana quem o resgatou na caixa de livros que eu havia destinado ao descarte. O autor era um canadense de nome estranho – Michael Ondaatje.Nós havíamos chegado recentemente de Montreal, para ela motivação suficiente de leitura. Uma história de imigrantes no início do século XX.

– Você gostou do livro?

– Não me lembro, respondi displicente.

Na realidade, eu nem me lembrava de ter lido ou comprado aquele livro. Leio livros pelo prazer imediato que me proporcionam. Uma semana depois raramente me lembro da história, do tema ou do autor. Talvez não seja bem assim, pois a minha pequena biblioteca atual reúne apenas os livros que li e de que gostei, o que supõe alguma memória, se não da substância, ao menos do sentimento que o livro me provocou.

Rosana insiste: – Você deve ter lido; na primeira página há uma anotação a lápis, com a sua letra. A observação aumentou minha curiosidade. Era uma citação de Baudelaire: “A forma de uma cidade se modifica mais depressa do que o coração de um mortal”. Isso não me dizia absolutamente nada.

Passaram-se alguns dias, Rosana terminou a leitura e gostou muito.O livro ficou por ali me desafiando. Mesmo entretido com outra atividade, não resisti e li o primeiro capítulo. O estranhamento só aumentou, contrariando o que geralmente acontece quando releio um texto há muito esquecido. Costumo encontrar um ponto de contato, um personagem, uma maneira de escrever, mas desta vez nada.

Quem sabe pesquisando o volume encontro alguma pista? Na orelha descubro que o autor mora há muitos anos no Canadá, mas nasceu no Sri Lanka e foi educado na Inglaterra. É hoje um dos mais importantes escritores de língua inglesa. O personagem principal é Patrick Lewis, nascido na região de grandes florestas no interior do Canadá que migrou para Toronto na década de 20. A primeira página traz duas pistas: o livro custou R$ 22,00 e foi comprado na Livraria Ouvidor da Savassi, em Belo Horizonte. Na última página aparece a informação de que foi composto em abril de 1998, mesmo ano do copyright da edição brasileira pela Editora 34.

Dezoito anos é tempo suficiente para apagar completamente da minha memória uma atividade prazerosa? Prefiro achar que me emprestaram ou presentearam um livro que nunca li e que a anotação foi feita por alguma pessoa que tem a letra parecida com a minha. E a livraria? Detesto pensar que ela é um dos meus lugares preferidos em Belo Horizonte, cidade onde nasci e que visito quase todo ano.

Continuo a leitura e descubro outra anotação minha, desta vez pelo sublinhado de duas frases. A primeira diz que “Só a melhor arte consegue ordenar o caótico tumulto dos fatos. Só a melhor arte consegue realinhar o caos de modo a sugerir tanto o caos quanto a ordem em que ele há de se transformar”. A outra afirma que “A primeira frase de todos os romances devia ser: acredite-me, isso vai levar tempo, mas existe uma ordem aqui, muito tênue, muito humana. Siga em ziguezague, se quiser chegar a seu destino.”

O que se passava em minha cabeça quando destaquei essas duas afirmações? Na minha condição de hoje, nem suspeito o que seja. Na primeira frase, por exemplo, o sentido é exatamente o oposto do que acredito ser a arte. Para mim, a arte contemporânea é um fator do caos, que abre novos caminhos e ajuda a desconstruir o que já existe.

A cada página que leio confirma-se a hipótese de que jamais pus os olhos neste livro e, no entanto, são muitas as provas de que eu o li atentamente. Jogo a toalha e vou até o final sem uma conclusão.

Ah, já ia me esquecendo de mencionar o nome do livro: “Na pele de um leão”. Com ou sem memória posterior, vale a pena ler.

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Escritores nunca estão em casa

07/10/2012 by Mauricio Cadaval

Os escritores só estão mesmo em seus textos. O resto – sua vida, biografias, a glória ou a decadência – não passa de ficções de segunda classe que até ajudam a entender a obra, mas jamais a substituem. Leia aqui esse excelente artigo de José Castello, publicado no Caderno Eu&Fim de Semana do jornal Valor Econômico.

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Livro das especiarias

21/09/2012 by Mauricio Cadaval

A Publifolha lançou um livro precioso de culinária: o Livro das Especiarias, do chef londrino John Gregory-Smith. Ele viajou por lugares como Tailândia, Malásia, Índia, Turquia, Marrocos, Oriente Médio e México em busca de receitas com aromas e sabores marcantes. É um livro de receitas deliciosas e nem por isso de difícil elaboração. Junto com as receitas, você aprende tudo sobre temperos simples como alho, pimenta, gengibre, páprica e canela e descobre outros menos conhecidos, mas delicadíssimos como o garam masala, o açafrão (diferente do nosso açafrão da terra) e o sumagre, todos à venda por aqui.

Tenho uma preferência especial pelas sopas e saladas e, entre elas, sugiro a salada de romã, erva doce, laranja e agrião. Já fiz também e todos gostaram do guisado persa de cordeiro com açafrão e mel. Se você não gosta de cozinhar, dê de presente e convide-se para o almoço.

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Rumos do Capitalismo

02/09/2012 by Mauricio Cadaval

Um dos melhores artigos que li sobre os dilemas do capitalismo contemporâneo.

O autor é o economista André Lara Resende. Publicado no caderno EU&Fim de Semana do jornal Valor Econômico de 31/08/2012.

Recomendável para a direita senil e a esquerda juvenil. Até os ambientalistas vão gostar. Contraindicado para fanáticos (políticos ou religiosos).

Clique aqui para ler.

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