Durante uma estadia de quase dois meses, nossa percepção de Lyon mudou radicalmente. Ao escolher a cidade como nosso destino na França, pensávamos apenas em ter um ponto de apoio conveniente para visitar as regiões de Rhône-Alpes, Provence e a vizinha Suiça. Aos poucos, Lyon se mostrou muito mais do que isso. Com seus 500.000 habitantes (1,3 milhões na área metropolitana), proporciona uma qualidade de vida excelente, vida cultural intensa e condições de mobilidade excepcionais. Mas, o que mais nos impressionou, foi a diversidade dos ambientes urbanos e dos atrativos que só uma cidade dinâmica, com mais de 2.000 anos de idade, pode oferecer. Em poucos dias você visita desde um anfiteatro galo-romano muito bem preservado, passando pelos belos prédios medievais e renascentistas do Vieux Lyon, até a área de renovação da Confluence, inteiramente adaptada aos padrões estéticos e tecnológicos contemporâneos. Diante de tudo isso, a gastronomia local, tão alardeada pelo marketing turístico e sem dúvida muito rica, não passa de um detalhe.
Viagens 2017
Este foi um ano de muitas viagens.
Alguns foram destinos de retorno como Marrakech, Sevilha, Lisboa e Lima. Mas, por que retornar?
- No caso de Marrakech e Sevilha, gostei tanto que a primeira viagem me pareceu incompleta e, simplesmente, era preciso
- Lisboa – cada vez mais interessante e bonita – é um hub que procuro sempre que há lugares distantes a atingir, mas onde acabo ficando vários dias como se fosse um lar. A primeira vez que estive lá foi em 1975, logo depois da Revolução dos Cravos; voltei várias vezes, acompanhando as transformações da cidade.
- Em Lima, morei algum tempo há vinte anos. Desde então a cidade mudou radicalmente, cresceu, modernizou-se, assumiu um novo ritmo, ainda não sei se para o bem ou para o mal. Chegando lá, minha sensação foi de estar num lugar estranho. Até Barranco, o bairro onde morei, mudou bastante, mas ao menos souberam preservar o essencial.
Outros lugares foram destinos novos. Entre eles estão Braga e Guimarães no norte de Portugal, os pueblos blancos nas imediações de Cádiz, na Espanha, Amizmiz e Essouira, no Marrocos e, o mais recente, Quito, a capital do Equador. Foram viagens curtas, de poucos dias. Se me perguntarem o que eles têm em comum, eu não hesitaria em dizer: a beleza da paisagem natural e da construção humana, quase sempre de ambos.
Fiz vídeos com fotos e filmagens de todos esses lugares. Eles podem ser vistos em minha página do Vimeo (www.vimeo.com/mcadaval/videos) ou diretamente no meu site: www.mcadaval.com.br.
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Cotopaxi
Sempre gostei de montanhas. Talvez por ter nascido e vivido muitos anos numa região montanhosa. Durante a minha infância e juventude, em Belo Horizonte, escalei várias vezes o “pico”, como chamávamos o ponto mais alto da Serra do Curral que limita a cidade a sudeste.
Em viagem ao Equador, meu principal objetivo era conhecer o vulcão Cotopaxi. Fui e tive uma das melhores experiências de minha vida. De um lado eu queria ver e sentir a beleza da montanha e, de outro, testar a minha capacidade de caminhar em grandes altitudes.
O Cotopaxi é um vulcão ativo, situado a 75 km de Quito, a capital do Equador. Tem 5.897 m de altura. Em companhia de Rodrigo, nosso guia, chegamos até o estacionamento de veículos a 4.400 m. Dai em diante é preciso caminhar para alcançar o primeiro refúgio que fica a 4.800 m. O trecho acima está interditado, pois o Cotopaxi vem dando sinais de erupção desde 2015.
Sem equipamentos adequados, consegui chegar aos 4.700 m. Em toda a caminhada, o ar é rarefeito, os ventos são muito fortes e faz frio. No limite de minha capacidade física e temendo o avanço de grandes nuvens, resolvi voltar ao estacionamento.
No mesmo dia, visitamos a Laguna Limpiopungo, um espelho d´água raso, próximo do vulcão, que atrai muitas variedades de pássaros e pequenos animais. De lá, atravessamos uma belíssima região agrícola trabalhada por famílias indígenas. É incrível como se vive e produz nessas altitudes de 3.500 metros.
A próxima etapa seria para visitar a Laguna Quilotoa. Poucos minutos depois de nossa chegada, a neblina cobriu toda essa região dos Andes. Curtimos o final do dia dentro das nuvens.
Serra do Cipó
Foi apenas um dia e uma noite, num período em que pouca gente visita a região. Mas o suficiente para perceber que a Serra do Cipó continua a ser a natureza encantadora que sempre foi. O turismo trouxe pousadas confortáveis e bons restaurantes, sem degradar o meio ambiente.
Para quem não conhece, a Serra do Cipó fica a 100 km de Belo Horizonte por estrada asfaltada que atravessa a cidade de Lagoa Santa. A região é cheia de cânions, rios de águas cristalinas e belas cachoeiras. Nela se encontra o Parque Nacional da Serra do Cipó, área de preservação ambiental que oferece a maioria dos atrativos.
Estive lá na adolescência, acampado com meu grupo de escoteiros num ambiente quase selvagem; voltei na década de 70 para desenhar paisagens e agora, visito uma Serra do Cipó diferente, receptiva e confortável, onde até a vegetação parece mais densa e envolvente.
Grandes Paineis
Criei um novo álbum de fotos bem interessante. O que caracteriza as fotos desse álbum é a presença de grandes painéis. São outdoors, murais e esculturas artísticas de grande porte, grafites, vitrines e espelhos. Em algumas fotos há também a presença de pessoas no primeiro plano, mas elas são apenas testemunhas, marcas do tempo e do espaço, jamais os focos principais.O aspecto portentoso de alguns painéis é apenas ilusório, efeito de lentes sobre objetos pequenos ou da menor aproximação. Pouco importa: as imagens se transformam em painéis e dominam o campo de visão. A qualidade não é uniforme e depende muito do equipamento disponível e da minha capacidade em cada momento.
As fotos foram tiradas nos últimos vinte anos em várias cidades que visitei e, entre tantas que já fiz, são as que mais me encantam. À vezes me pergunto sobre o porquê dessa preferência e não encontro resposta. Sinto que elas me permitem criar mais com os dados do meu campo visual do que uma paisagem ou figuras humanas em fundo neutro.