Pedi ao meu neto, que está morando no Além Mar com sua esposa e filhinhas, fotos de coisas banais como a fachada do prédio onde mora, o carro, a rua em frente da moradia, o interior do lugar onde trabalha e uma marmita pronta que sua esposa prepara para vender. A presença da família, inclusive das queridas bisnetas, é dispensável. Um céu nublado pode estar no plano de fundo se forem raros os dias ensolarados.
Ele disse que sim, que iria providenciar.
Imagino que ele e a esposa ficaram curiosos. Ou, talvez, que o pedido de um avô em idade avançada, por mais estranho que seja, não deve ser rejeitado. Pode haver alguma resistência: um carro velho não sugere problemas financeiros e, quem sabe, um indesejado pedido de ajuda? Uma fachada sombria na hora da foto não lembra falta de higiene?
Recebo algumas fotos de parentes e amigos pelo Instagram. A maioria – por que não dizer a quase totalidade – mostra pessoas felizes, em ambientes bonitos e bem arrumados, selecionadas a dedo na infinidade de registros mal focados e selfies disformes. Nada contra. Mas, de vez em quando, é bom receber imagens do dia-a-dia. Não digo tristes, porque ninguém é de ferro, mas apenas humanizadas pelo quotidiano, com os seus defeitos e imprecisões. Por exemplo, um jiló na marmita de minha nora, um carro empoeirado ou um escritório antes da faxina.
É isso que estou pedindo ao meu neto: que, à distância, me deixe entrar nos lugares de seu quotidiano.