Visitei muitos museus de arte em diversos países, o que me rendeu mais cansaço do que prazer. De vários eu só me lembro do nome (alguns nem disso) e de um ou outro objeto exposto. Há alguns anos parei de ir aos louvres e prados, os grandes museus, por mais que reconheça a importância e riqueza de seu acervo.
Outro tipo de museu me encanta e muito. São os que colocam a arte em estreito contato com a natureza. De imediato, lembro-me de cinco: o Kröeller-Müller, na Holanda, o FriederBurda, em Baden-Baden (Alemanha) e o CalousteGulbenkian, em Lisboa. Os outros dois estão no Brasil: o Inhotim, em Brumadinho (MG) e a Fundação Maria Luiza e Oscar Americano, em São Paulo. Eles têm em comum o fato de estarem localizados dentro de jardins ou parques lindíssimos e terem arquitetura primorosa, quase sempre moderna. Exceto o Gulbenkian e a Fundação Oscar Americano, todos estão situados fora de grandes cidades. São lugares de prazer e encantamento, alguns com ótimas programações artísticas e exposições temporárias. Valem uma viagem só para estar no seu ambiente.
Museu Kröeller-Müller
O Museu Kröeller-Müller é uma experiência estética e sensorial fantástica. Fica na Holanda (Província de Gelderland), dentro do Parque Nacional HogeVeluwe, e é todo dedicado à arte moderna. Seu acervo é constituído por obras adquiridas entre o final do século XIX e início do século XX pela esposa de um industrial holandês que, em 1935, doou a coleção para o Estado.
O ponto alto do acervo é a coleção de 278 pinturas e desenhos de Van Gogh, que me fizeram redescobrir o artista. Por muito tempo eu vi a obra de Van Gogh apenas como uma expressão dos desequilíbrios psíquicos que o atingiram no final da vida. A coleção Kröeller-Müller me mostrou Van Gogh como um artista completo, genial pela sua criatividade, capacidade de expressão e excelência técnica.
A coleção de pontilistas franceses (Seurat, Signac e outros), embora pequena, é simplesmente maravilhosa e nos leva às origens da imagem digital. Na área externa do moderno prédio, o imenso jardim é dedicado a esculturas de artistas contemporâneos.
A visita se completa com a culinária requintada do restaurante e um passeio de bicicleta pelas florestas do parque. Tudo num ambiente tranquilo, sem filas nem atropelos.
Museu Frieder Burda
Baden-Baden é uma bela cidade, muito conhecida por suas águas termais, situada no sudoeste da Alemanha. O Museu FriederBurda fica no Parque LichtentalerAllee que se estende ao longo do Rio Oos, margeando a cidade antiga. Sua arquitetura é moderna e o prédio funciona como um prolongamento do jardim do entorno, com grandes janelas e paredes de vidro, e se integra harmoniosamente ao vizinho Museu de Artes de Baden-Baden, de estilo neoclássico. O projeto, de 2004, é do arquiteto americano Richard Meier.
Reunido pelo empresário FriederBurda, o acervo permanente é composto por mais de 1000 pinturas, esculturas e objetos, todosrepresentativos da arte nos séculos XX e XXI. Destacam-se as obras de pintores expressionistas alemães (Beckman, Kirdiner etc.) e de expoentes do expressionismo abstrato americano como Kooning, Pollock, Rothko e outros. Nele estão também presentes várias obras de Picasso.
Ao percorrer as salas, rampas e corredores, o visitante aprecia tanto as obras de arte, quanto as paisagens do jardim através das enormes paredes de vidro. É uma experiência fantástica.
Museu Gulbenkian
A maioria dos meus amigos que visita Lisboa se contenta em apreciar – não sem razão – a Baixa/Rossio, o Chiado, o Bairro Alto e outras áreas e atrativos do centro histórico, além dos bairros de Belém e Ajuda, onde ficam a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerônimos. São poucos os que se dirigem ao maravilhoso Museu Gulbenkian, localizado perto do centro, junto ao Parque Eduardo VII. E, no entanto, é aí um dos lugares mais agradáveis de Lisboa. A começar pelo parque em que se situa o Museu, com seu paisagismo requintado e recantos paradisíacos.
Transcrevo de um Guia de Lisboa: “Próspero homem de negócios e um grande amante das artes, CalousteGulbenkian adquiriu em Lisboa (entre 1942 e 1955) mais de 6.000 obras de arte (…) egípcia, assíria, grega, asiática e islâmica, além de objetos de arte decorativa e pinturas europeias da Idade Média até o século 19.”
A coleção é fantástica, não só pelos objetos em si, mas também pela funcionalidade e beleza arquitetônica do espaço que ocupa. A seção com peças de René Lalique, joalheiro e decorador art nouveau, é imperdível.
A Fundação Gulbenkian oferece também concertos clássicos, balé, jazz e música contemporânea ao ar livre no ambiente bucólico do parque.
Inhotim
Um belíssimo parque, junto à cidade de Brumadinho (60 quilômetros de Belo Horizonte) que abriga talvez a maior coleção de arte contemporânea do Brasil. O acervo permanente é exposto em vários pavilhões e ao ar livre. O parque, hoje administrado por uma ONG, foi iniciativa do minerador Bernardo Paz que está sempre por lá recebendo as visitas. Quem não se interessa pelas obras dos muitos artistas brasileiros e estrangeiros, pode se deliciar com os belos jardins e lagos e com o finíssimo buffet do Restaurante Tamboril .
Para mim, as obras mais bonitas são as de Adriana Varejão (o pavilhão e o painel “Celacanto provoca maremoto”), de Cildo Meireles (“Desvio para o vermelho”), o mural externo de John Ahearn e Rigberto Torres (“Abre a Porta”) e o pavilhão espelhado de Valeska Soares (“Folly”).
Há dois caminhos paraInhotim partindo de Belo Horizonte: um pela serra, com paisagens que dizem ser muito bonitas, e outro com estrada boa, mas movimentada, mostrando a paisagem horrorosa e poluída da cidade industrial de Contagem. Sempre fui por este último porque não conheço o primeiro trajeto. Brumadinho nada tem de interessante, muito pelo contrário, é uma cidade feia e sem atrativos. Inhotim compensa amplamente as agruras urbanas e dos caminhos.
Dizem que nos fins de semana está muito cheio, mas é quando acontecem os shows e concertos. Eu prefiro a tranquilidade dos dias úteis, fora do período de férias.
Museu Luiza e Oscar Americano
Desde os tempos em que trabalhei no Palácio dos Bandeirantes e, nas pouquíssimas horas de folga, passeava nos jardins da Fundação Luiza e Oscar Americano, que fica bem em frente, considero este um dos espaços mais bonitos e agradáveis de São Paulo.
Projetada pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratke em 1950, a casa moderna de incrível leveza arquitetônica é cercada de jardins e matas onde, em poucos minutos de caminhada, a gente se esquece da turbulenta megalópole e entra no mundo da tranquilidade. A casa abriga o acervo de arte brasileira adquirido pelo empresário Oscar Americano de Caldas Filho (proprietário da CBPO, empresa especializada em obras de engenharia; falecido em 1974). São pinturas do século XVII, mobiliário, prataria, porcelanas, tapeçarias e arte sacra do século XVIII, além de pinturas de artistas brasileiros do século XX, com destaque para Victor Brecheret, Lasar Segall, Guignard, Di Cavalcanti e Portinari.
Num auditório anexo à casa são realizados concertos, recitais, conferências e cursos sobre história da arte, literatura e música. Um requinte completado pela casa de chá que dá vista para o jardim.