Artes & Artigos

por Maurício Cadaval

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Todo mundo quer

02/10/2023 by Mauricio Cadaval

Em Curitiba, um médico teve o carro roubado há dois dias. É a quarta vez, em dois anos, que o mesmo carro é levado por ladrões. Só nesta semana foram duas vezes.

O médico Guilherme Cadaval virou figura fácil nos pontos de ônibus, pegando carona no carro dos colegas de trabalho. “Tem que dar uma caroninha para os amigos que estão a pé, diz uma colega. Ou andando pelas ruas da cidade. Ele tinha um carro: um Verona ano 90, que sempre deixava estacionado perto do Hospital das Clínicas, onde ele trabalhava e foi ali que o automóvel virou o alvo preferido dos ladrões.

Em 2003, o carro foi roubado duas vezes e, nas duas vezes, a polícia conseguiu recuperá-lo. No início deste mês, os ladrões levaram o Verona novamente, de novo, a polícia trouxe o carro de volta. Desta vez ele estava em um desmanche em Curitiba. O médico viu o “famoso” Verona, semana passada em uma reportagem de televisão. “Que saudades. É um carro antigo, já não tem mais peças, eles desmancham e aproveitam as pecas pra serem vendidas, diz o médico.

Passagem: três dias depois de ver o carro recuperado na TV, o médico precisou voltar ao Hospital das Clínicas. Estacionou o carro mais ou menos a 300 metros do hospital. Quando retornou, adivinhe o que aconteceu: o carro tinha sido roubado pela quarta vez “Não acreditei, não é possível. Eu olhava, imaginava, talvez o carro tivesse um pouco mais acima, um pouco mais abaixo. Fui pra casa ainda pensando que eu teria deixado em outra rua, algum lugar diferente”, conta ele.

Doutor Guilherme já não tem tanta certeza de que o carro volte pra ele, de novo. Na casa dele, a garagem vazia ainda guarda uma lembrança: a mancha de óleo gravada no piso e escorrida do velho motor. “Eu penso que talvez eles retornando eu devo vender, já não aguento mais isso não. É um carro muito visado” conclui o médico. Apesar de tudo o médico mantém o bom humor por dois motivos: nunca encontrou os bandidos e o carro tem seguro.

(Matéria veiculada no Jornal da Globo, 07/03/2005)

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Chuva do Bonfim

03/07/2023 by Mauricio Cadaval

 

– Hii, parece que vai chover. É mió tirar as roupa do varal.

– Chuva mesmo é a que vem do Bonfim, replica Dona Diva, olhando pela janela do quarto.

Para quem não conhece Belo Horizonte, Bonfim é o nome do principal cemitério da cidade. “Chuva mesmo” quer dizer chuva forte, volumosa. Naquele dia choveu mesmo e não deu tempo de recolher a roupa estendida. Mas, a frase de Diva, repetida muitas vezes, ficou bem-marcada na memória de todos.

Diva morreu com 101 anos e foi repousar no Cemitério do Bonfim. No fim da vida, já muito cansada, repetia sempre o seu desejo de passar para o outro lado, ainda que para isso fosse preciso tomar “veneno de rato”. Nunca teve coragem e um dia, tranquilamente, fechou os olhos e se foi. Não sei se morreu sob a chuva mesmo, aquela que vem do Bonfim, ou talvez sob uma chuvinha de nada.

Sei que deixou saudades.

   

 

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Farrapos de Tempos Idos…

28/07/2021 by Mauricio Cadaval

“Farrapos de tempos idos…” foi escrito em 1933, no Rio de Janeiro, e impresso em 1950. Seu autor é José Palhano de Jesus, filho de minha tia-avó, que escreveu o livro quando tinha 75 anos. A primeira parte do livro retrata o período em que, ainda menino, o autor viveu na Mata Virgem, fazenda de seu avô, localizada no interior do Maranhão, distante cerca de 80 quilômetros da cidade de Codó, à época uma pequena vila. O jeito de viver de brancos e escravos na fazenda entre 1880 e 1890 são apresentados em detalhes. O livro é recheado de histórias pitorescas e aventuras de criança.

Conheça o livro:

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O futuro do livro

28/03/2021 by Mauricio Cadaval

O diálogo a seguir aconteceu em 2010. Desde então, algumas informações nele citadas foram alteradas. Ver as notas de rodapé.

 

Você se lembra, Ana Paula[1], do seu comentário sobre o futuro do livro? Nele você defendia a perenidade do livro-papel, argumentando que as mídias digitais se tornam rapidamente ilegíveis com o vertiginoso desenvolvimento tecnológico atual. E completava, citando o último livro de Umberto Eco (Não contem com o fim dos livros): “Quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos?”

As coisas não são bem assim. A conversão da produção artística e científica para as novas mídias está acontecendo numa velocidade incrível. Você, que gosta de cinema, sabe que as lojas estão abarrotadas de filmes antigos, muitas vezes em apresentação melhor do que a original. O mesmo já está acontecendo na transposição do livro-papel para o e-book.

Mas, há outra transformação ainda mais importante em curso. As bibliotecas pessoais tendem a desaparecer ou diminuir de tamanho, ao mesmo tempo em que crescem as bibliotecas virtuais, armazenadas na Internet em imensas “clouds computing”. No futuro, ninguém vai manter coleções de livros, DVDs, filmes etc. As obras serão disponibilizadas on line por grandes organizações, como a Amazon.com e a Google, que farão com facilidade, a sua adaptação às mídias novas que vierem a aparecer.

“O Banquete”, de Platão, vai continuar aparecendo nos computadores do futuro, assim como estavam disponíveis em manuscritos sobre papiro ou pergaminho há séculos atrás. Só que não mais para alguns ilustrados gregos, mas para milhões de pessoas em várias línguas.

O que me preocupa é a conservação das “pequenas histórias”, como dizia Augusto Frederico Schmidt. São as histórias de família, os diários pessoais etc., todas elas fundamentais como fontes da “grande história”. Estas permanecerão em coleções de arquivos pessoais e estarão sujeitas a desaparecer à medida que as mídias forem se transformando. Tenho um blog chamado “Coisas de Família” (HTTP://mcadaval.wordpress.com)[2], onde guardo histórias, árvore genealógica, curiosidades, fotos etc., em outras palavras, “pequenas histórias” contadas e lidas por meus parentes. O que vai acontecer com elas quando eu morrer? Quem pagará o provedor onde os arquivos estão armazenados? Quem fará a atualização de formatos como docx e pdf que certamente não mais existirão daqui a 10 ou 20 anos? Ou será que tudo isso não tem importância?

Para terminar, sugiro que você leia o artigo publicado no último número da Revista Bravo com o título iPad Admirável Livro Novo (http://bravonline.abril.com.br/conteudo/literatura/ipad-admiravel-livro-novo-554851.shtml)[3]. Bem interessante.

Mauricio Cadaval 01/05/2010

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Cadaval,

Não creio que  um irá, necessariamente, substituir o outro.  Apenas  acredito (e  pessoalmente torço) para que o livro de papel não deixe de existir. Não digo isso por nostalgia antecipada, como aqueles sentimentos doídos que às vezes nos fazem acreditar que tudo era melhor e mais bonito na nossa época. Há cerca de 12 anos como internauta contumaz, nunca consegui, nesse tempo, deixar de gostar de ler no papel. Na internet leio o que não é lá, tão importante, ou aquilo que é imediato, algo que no próximo F5 estará alterado pela correria da informação pelo tempo. As novas mídias, as quais respeito e absorvo, não me fizeram abrir mão do jornalismo radiofônico, nem o da TV e, confesso, quando tenho tempo, poucas coisas são mais gostosas durante o café da manhã que um folhear de jornal, mesmo que deixe os dedos meio pretos de tinta. Como você lembrou, é fácil baixar um filme no computador, mas que delícia é sair de casa para ir ao cinema. Pode ser o filme mais boboca, até mesmo num dia chuvoso, mas nunca deixarei de aproveitá-lo melhor sentada numa poltrona de cinema. Pode ser bobice de mulher e resquício de adolescente que  teve  diário,  ou  de  jornalista  que  começou  a  escrever  no  pragmatismo  da  máquina  de escrever, mas ainda mantenho com gosto agenda de papel, por mais que o Yahoo relembre diariamente os meus compromissos. Nela colo coisinhas, como imagens dos filmes que vi, capas dos livros sugeridos por jornais e revistas e que ainda quero comprar, frases que li por aí e pude recortar e colar para lembrar de uma dura verdade qualquer, faço anotações com uma caligrafia que ainda treino para ser bonita, enfim, detalhes importantes, que de certa forma materializam o que sinto e quero e que, haja o que houver, internet, energia, bateria, estarão ali, palpáveis para mim, num romantismo que ainda tenho pelas coisas que me são caras. Abração, Ana Paula.

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Cadaval, oi de novo.

Depois que respondi seu comentário, olhei para as estantes daqui de casa para tentar entender por que os livros que estão ali preenchem tanto a minha vida. Normalmente mantenho ali apenas aqueles  que  me  são  muito  caros, e  todos  eles  trazem  tanta  história,  seja  com  as  pequenas anotações a lápis no cantinho das páginas, ou pela forma que, como um todo, inundaram minha vida  de  uma  grandiosidade  essencial  para  me  manter  crente  num  mundo  de  significados  e sentimentos cada vez mais voláteis.

Não me imagino lendo Crime e Castigo ou Irmãos Karamazóv na tela de uma mídia moderna. E nem precisa se tratar de algo tão profundo assim. A simplicidade e o lirismo, para mim, também não combinam com os meios digitais. Pode ser a crônica do Rubem Braga ou o poema do Mario Quintana,  prefiro  lê-los  no  papel.  Para  meios  eletrônicos  deixo  as  planilhas  de  excel,  textos perecíveis ou relatórios pragmáticos. Tudo aquilo que pede de mim minutos além do necessário para uma primeira leitura, prefiro mesmo no papel, por mais antiecológico que seja. Quero fonte com serifa e papel amarelado, numa diagramação limpa e folheável, que me faça ter a noção, pela gramatura, do quanto li e do quanto ainda tenho para ler.

Ver ou retirar o livro da estante tem para mim um significado muito mais amplo do que sabê-lo existir dentro da subpasta de uma pasta num diretório qualquer. Eles preenchem a minha vida como se resumissem ali parte da minha trajetória. Acho que é a constatação da máxima que diz “sou uma parte de tudo o que li”. Outro abraço, Ana.

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Olá, Ana Paula.

A sua resposta é um presente. Escrevo um comentário pretensamente científico no Facebook e recebo de volta uma ode ao livro, cheia de sentimento e poesia.

Eu gostaria de ter consciência de que “sou uma parte de tudo que li”, como você. Mas não tenho, embora seja também um leitor contumaz. Estou constantemente lendo um ou mais livros (geralmente romances, pouca poesia e, atualmente, quase nada de literatura técnica). Para mim, a leitura é um ato de prazer: leio, gosto ou não gosto, e retenho pouco ou quase nada, ao menos no plano consciente, pois tenho péssima memória. O fluxo de ideias talvez me penetre num plano inconsciente, que não controlo bem.

Assim, com pouquíssimas exceções, não sinto o livro na prateleira como uma parte de mim, nesta relação afetiva que você experimenta. E, por isso, vejo o e-book com naturalidade, embora ainda não tenha um[4]. Nele, o livro tem o mesmo caráter efêmero que assume quando entra em minha mente: o de um objeto de prazer. Terminada a leitura, fecho o arquivo. Ele que aja, se quiser e puder, nos meandros do meu inconsciente.

Acabei de ler Khadj-Murát, de Tolstoi, lançado recentemente pela Cosac Naify[5], um livro maravilhoso. Sou capaz de queimá-lo, só para ter o prazer de, daqui a algum tempo, quando tiver me esquecido da história, voltar a comprá-lo e ler novamente.

 

[1] Ana Paula Drumond Guerra, jornalista, Mestre em Letras, historiadora oral e curadora de memórias pessoais.

[2] Este blog foi substituído pelo site Artes & Artigos: www.mcadaval.com.br

[3] O último número da revista Bravo saiu em agosto de 2013.

[4] Já adquiri um e-book Kindle.

[5] A Editora Cosac Naif encerrou suas atividades em novembro de 2015.

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Eliete

18/03/2021 by Mauricio Cadaval

Foi um namoro de férias, talvez nem isso. Melhor dizendo, uma paquera de adolescente. Seu nome era Eliete e morava em Itabira, onde eu às vezes passava férias em companhia de meu amigo Urbano. O primeiro encontro foi certamente no footing do paredão da Rua Tiradentes onde moças e rapazes passeavam à noite, em pequenos grupos, e eventualmente – mas não por acaso – formavam pares. Mãos dadas era o sinal de que um namoro estava começando. Eu e Eliete, apresentados pelas primas de Urbano, caminhamos de mãos dadas. Ela era magra, bonita e, se não me falha a memória, tinha olhos claros. O que mais me atraia, no entanto, era a sua delicadeza, mesclada a certa timidez e simplicidade. Não me lembro sobre o que conversávamos e nem quantas vezes nos encontramos. Sei apenas que o nosso último encontro começou num baile do Clube Atlético Itabirano.

Lá pelas tantas da madrugada e depois de muitas cervejas, fui levar Eliete em casa. Ela morava perto da antiga estação e, do clube até lá, era preciso atravessar uma área quase deserta, de vegetação rasteira. Fomos conversando no escuro e não prestei atenção no caminho. Depois da despedida, tomei a picada que me pareceu mais sugestiva para chegar ao centro, guiado pelas luzes distantes. Algum tempo depois, me dei conta de que chegara a lugar nenhum e, grogue como estava, não adiantava insistir. Deitei no chão e dormi. Acordei com os primeiros raios de sol batendo no meu rosto. No lusco-fusco da manhã, apesar de uma tremenda ressaca, identifiquei algumas referências e poucas horas depois estava no ônibus, retornando a Belo Horizonte.

Não voltei a Itabira e nunca mais revi Eliete.

 

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